SIMPÓSIO: VITTORIO PICA E SEUS ACIDENTES EXCEPCIONAIS
Palestrante:
Davi Pessoa Carneiro (davipessoacarneiro@gmail.com)
Resumo:
Vittorio Pica (Nápoles, 1864-1930, Milão) exerceu as atividades de escritor e crítico de arte e literatura. Sua especificidade, no entanto, não recai apenas no âmbito italiano dessas disciplinas. Com apenas 18 anos de idade Pica recebeu uma menção honrosa no jornal político e literário romano “Fanfulla della domenica” a respeito de seu ensaio sobre os escritores e irmãos franceses Edmond e Jules de Goncourt. Pica teve um papel importantíssimo na criação da Bienal de Veneza e foi curador de suas primeiras edições, e ali começa a desenvolver um interesse específico pelas artes orientais. Pica escreveu os primeiros textos sobre a arte japonesa, na Itália, reunindo-os, em 1894, no livro L’arte dell’Estremo Oriente. Foi também um dos fundadores da famosa revista de artes Emporium, fundada em 1895, cuja atividade, de certo modo, transformou a tradicional tipografia italiana, passando a usar procedimentos tecnológicos mais modernos. Em 1898, Pica publica Letteratura d’eccezione, em que estabelece o problema da relação entre a cultura italiana e a vanguarda literária européia, passando por Mallarmé, Verlaine, Huysmans, só para citar alguns nomes. A comunicação tem por objetivo apresentar, portanto, uma série de relações acidentais e excepcionais da produção intelectual de Vittorio Pica, que traz sempre a marca da incerteza e da dúvida, sentimentos típicos de pensadores poliédricos, como em seu caso e também como no caso de Giacomo Leopardi.
Palavras-chave: Arte. Literatura. Bienal. Exceção. Vittorio Pica.
Comunicação 1: SENTIDOS DA INAPREENSÃO: MANUEL BANDEIRA VAI À ITÁLIA NO SÉCULO 19
Participante: Manoel Ricardo de Lima - Instituição:UNIRIO
Resumo: Em 1940, Manuel Bandeira publica Noções de história das literaturas seguindo um procedimento que ele mesmo chama de “tarefa do compilador” para cumprir e atender ao programa de literatura do colégio Pedro II, onde era professor. E é como compilador, por exemplo, que persegue a “poesia perdida” de José Albano e que organiza o seu precioso Apresentação da poesia brasileira [1946]. Esse Noções parte de uma proposição de Schiller, quando “poesia é a força que age duma maneira divina e inapreendida, além e acima da consciência”, e toma um sentido da inapreensão como uma maneira de reler a história e desenha assim um jogo de renúncia, como propunha Walter Benjamin, ao caráter museológico da história, para se perguntar diante do encontro com a “familiaridade gasta” de Emilio Praga, Arrigo Boito e Ugo Tarchetti, de um lado, e com Giosuè Carducci, do outro, acerca das relações entre literatura, história e história da literatura.
Palavras-chave: Inapreensão. História. Século XIX. Manuel Bandeira
Comunicação 2: SOB A ÉGIDE DO SÍMBOLO:GIAN PIETRO LUCINI EM MANIFESTO
Participante:Gleiton Lentz - Instituição:UFSC
Resumo: Definido por Edoardo Sanguineti como o “primeiro dos modernos”, Gian Pietro Lucini é um dos poucos poetas e críticos literários do Novecento italiano que se projetou em uma perspectiva não só nacional, mas também europeia. Em seu contínuo teorizar, repleto de reflexões histórico-culturais e digressões literárias, o poeta argumentava que era preciso buscar um novo modelo de “cultura poética”, e que este “novo” se encontrava no Simbolismo. E por mais de duas décadas ele teorizaria acerca da nova corrente estética que invadiu o velho continente ao final do século XIX, não sem levantar polêmicas discussões literárias, abordando desde o verso livre aos conceitos de símbolo e decadência, além de tecer o primeiro e único manifesto reconhecido do movimento na península. Para tanto, apresentam-se os postulados teóricos de Lucini com base no manifesto de fundação do simbolismo italiano, o Prolegomena, de 1894.
Palavras-chave: Simbolismo. Manifesto. Lucini.
Comunicação 3: MORFOLOGIA E POLÍTICA EM GIOVANNI MORELLI
Participante: Kelvin Falcão Klein –Instituição: Unirio
Resumo: Antes de suas intervenções como crítico de arte, o médico e professor de anatomia Giovanni Morelli (1816 – 1891) teve destacada atuação como homem público do então Reino da Itália. A relação possível entre as duas atividades não tem sido destacada com frequência, por isso esta comunicação terá os seguintes objetivos: 1) atentar para as ligações entre medicina, política e crítica de arte, condensadas para fins de análise na figura do corpo; 2) postular a dupla preocupação de Morelli com o “corpo político” e o “corpo artístico”, e como a “revolução” de seu método (na leitura de Edgar Wind) carrega elementos da prudentia, tal como desenvolvidos por Maquiavel e Guicciardini no Renascimento italiano; 3) por fim, considerar o apelo morfológico do método de Morelli (com Goethe e nas leituras de Ginzburg e Wollheim), enfatizando a mobilidade metodológica dos detalhes como signo da transformação político-artística ensaiada em fins do século XIX, levando a revisões de categorias tais como as de autenticidade, pertencimento nacional e tradição. Minha hipótese é que o método de Morelli se apresenta numa configuração contraditória historicamente situada, mobilizando oposições como idealismo e positivismo ou matéria e espírito, contrabalançada por uma ironia estilística e identitária (a partir de Kierkegaard).
Palavras-chave: Morfologia. Política. Corpo. Prudência. Método. Giovanni Morelli.
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